“Cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno.” Hebreus 4:16
Apesar de muitos entenderem os termos ‘graça’ e
‘misericórdia’ como sinônimos, eles possuem significados bem distintos.
Ambas são encontradas no mesmo endereço: o trono da graça. Ora, se o trono é da
graça, concluímos que esta tenha primazia sobre a misericórdia. Porém, para
achar a graça, primeiro tem-se que obter a misercórdia. É como um protocolo.
Para chegar ao rei (graça), é necessário agendar antes uma audiência com o
Primeiro Ministro (misericórdia).
Este trono tem como base a retidão e
a justiça (Sl.97:2), e é sustentado pelo AMOR
(Pv.20:28). Ora, o trono nada mais é que uma cadeira ornamentada, ocupada por um
monarca. Como tal, possui quatro pés que devem ter o mesmo tamanho e a mesma
distância entre si, estando perfeitamente alinhados. Estes quatro pés são
responsáveis por manter a estabilidade do trono. Eles são a representação do
AMOR em suas quatro dimensões: agape, filos, eros e
storge. Nenhum pé pode ser maior que o outro. O fato
de serem do mesmo tamanho aponta para a justiça, e o seu alinhamento representa
a retidão. Ele só é um trono de graça por ser sustentado pelo amor. Sem amor, o
trono que rege o Universo precisaria de um calço, ou ficaria condenado à
instabilidade para sempre.
Deixe-me explanar um pouco sobre a misericórdia: A palavra em
latim é ‘misericordis’, que é a juntão de duas outras palavras,
miseri (miséria) e cordis (coração). Ter misericórdia é
acolher em nosso coração alguém desprovido de qualquer recurso meritório. É pela
misericórdia que Deus nos acolhe em Sua presença, apesar de não
merecermos.
Deus é santo, enquanto nós, pecadores. Santidade e pecado são
como água e óleo, não se misturam. Se a justiça fosse o único atributo divino,
estaríamos todos condenados a passar a eternidade alienados de Deus. Qualquer
esforço nosso para reverter isso seria em vão. Porém Ele tomou a iniciativa,
vindo ao nosso encontro, mergulhando de cabeça em nosso mundo, fazendo-Se pecado
por nós. Zacarias, o pai de João Batista, expressa isso em sua canção, afirmando
que foi “por causa da entranhável misericórdia do nosso Deus”, que o
sol nascente das alturas nos visitou, “para iluminar os que jazem nas trevas
e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz”
(Lc.1:78-79).
A mãe hospeda seu filho em seu ventre por nove meses e sente
terríveis dores para trazê-lo ao mundo. Isto é misericórdia. No início da
gestação, a criança é tida como um corpo estranho dentro de sua mãe. O corpo da
mãe tenta rejeitá-lo. Mas gradualmente, o corpo dela vai se ajustando, e
acolhendo o pequeno corpo em formação.
Uma vez nascido, ela o amamenta, cuida, educa e lhe enche de
amor. Isto é a graça!
Seu ventre é um lugar de misericórdia. Mas seus braços e
seios são lugares de graça. Percebe a diferença?
Ouça o que Deus diz:
“Pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de modo que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” Isaías 49:15
Ele não pode nos esquecer! Estamos gravados nas palmas de
Suas mãos!
Pela misericórdia, Ele nos aceita em Sua presença. Mas pela
graça, Ele nos deseja.
Sua misericórdia nos salva de Sua justa ira. Sua graça nos
faz objeto de Seu amor.
Lembra da parábola do filho pródigo? Quando o pai recebe seu
filho de braços abertos, sem acusá-lo de nada, isto é misericórdia. Mas quando o
pai prepara uma festa para celebrar seu retorno, isto é graça. Tal qual o
pródigo da parábola, todos disperdiçamos o maior de todos os dons: a vida. Por
isso, todos igualmente contraímos uma dívida com o Criador. É a isso que
chamamos de pecado. Jamais poderíamos pagar tal dívida. Mas Deus pagou-a ao
enviar-nos Seu único Filho para morrer em nosso lugar. Isto é misericórdia.
Nosso débito foi quitado.
Mas Ele fez mais: em adição ao pagamento de nossa dívida, Ele
depositou uma vasta quantia em nossa conta. Saímos de uma situação de débito
para uma situação de crédito.
Ele não apenas nos libertou do inferno, como também nos
garantiu o céu.
Misericórdia é não dar-nos o que de fato merecemos. Graça é
dar-nos exatamente o que não merecemos. O que merecemos da parte de Deus? Vida
ou morte? Bênção ou maldição? Ora, se somos pecadores, merecemos a morte. Mas a
misericórdia prevalece sobre o juízo. Em vez de ira, recebemos Seu amor. Em vez
de morte, vida eterna.
A mesma graça deve ser nossa motivação para servi-Lo. Não
fazemos o bem com a intenção de tornar-nos merecedores de Suas bênçãos. O bem
que fazemos deve ter a intenção de demonstar nossa gratidão por tudo o que Ele
fez por nós. Isso é graça! Nós não queremos impressioná-Lo, ou pressioná-Lo a
realizar nossos desejos. Não! O que almejamos é agradá-Lo em tudo, simplesmente
por amá-Lo. E por que O amamos? Porque Ele nos amou primeiro.
Se antes tínhamos uma dívida de pecado, agora temos uma
dívida de gratidão.
Por causa de Sua misericórdia, estamos vivos.
Em Lamentações 3:22-23, Jeremias diz:
“As misericórdia do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois as suas misericórdias não têm fim. Nova são a cada manhã; grande é a tua fidelidade.”
Nossa vida está sempre por um fio! O fio da misericórdia
divina. Ela é quem dá corda no relógio de nosso coração dia após dia. Cada vez
que acordamos, devemos agradecer porque nosso contrato com a vida foi renovado,
tendo como fiador a misericórdia.
Mas a graça vai além disso. Se por causa da misericórdia,
estamos vivos, por causa da Sua graça nossa vida tem propósito.
Agora, o escritor sagrado nos convida a dirigir-nos ao trono
da graça com confiança. Não auto-confiança. Mas confiantes em Sua misericórdia e
graça. E o fazemos seguros de que seremos socorridos em tempo oportuno. Se Ele
foi capaz de dar-nos Seu único Filho, de que mais Ele seria incapaz de dar
àqueles que n’Ele confiam?
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