1Pe 5:8-9 "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo".
Será que Deus me condenaria por ter relações sexuais com cristãs que estão na mesma situação que eu? É que se mudarmos um pouco a pergunta, ela serviria também para quem está temporariamente desempregado: "Até eu conseguir um novo emprego, posso sair por aí roubando?".
Para entender a questão das tentações e desejos sexuais, primeiro é preciso entender por que Deus criou o sexo. O desejo sexual não é, como muitos pensam, como o apetite ou a sede. Um ser humano não pode viver sem comer, beber ou respirar, mas pode viver sem ter relações sexuais. Ninguém morreu por ser celibatário ou por praticar a abstenção, mas é comum você ouvir de pessoas que morreram no ato sexual e por causa dele.
Deus deu aos seres humanos a atividade sexual, que inclui o prazer sexual, depois de criar o homem e a mulher para formarem um casal, dizendo que crescessem e se multiplicassem. Então o sexo foi dado como algo complementar à união entre um homem e uma mulher, uma espécie de união de fato ou consumação do compromisso assumido, e nesta ordem: primeiro Deus os fez um casal para viver o compromisso do matrimônio, e depois deu a eles a ordem da multiplicação que envolve o ato sexual.
Não creio, porém, que o ato sexual entre um casal esteja restrito à procriação, pois vemos Isaque e Rebeca brincando, provavelmente com carícias sexuais que não são feitas entre irmãos e caracterizam uma relação entre um casal:
Gên 26:8-9 "Ora, depois que ele se demorara ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher. Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como pois disseste: E minha irmã?"
Encontramos também referências em Coríntios para que o casal não se abstenha de ter relações sexuais, salvo por mútuo consentimento, e ali certamente não está restringindo à questão da procriação:
1Co 7:3-5 "O marido pague à mulher o que lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não vos negueis um ao outro, senão de comum acordo por algum tempo, a fim de vos aplicardes à oração e depois vos ajuntardes outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência".
Repare que nesta segunda passagem, trata-se de uma relação de dar, e não de receber. O marido deve dar à mulher o que deve ser dela e vice-versa. Aqui significa que se o marido tiver desejo de sexo, a mulher deve satisfazê-lo, e se a mulher tiver desejo de sexo, o marido deve satisfazê-la. Equivale dizer que cada cônjuge não pratica a relação para a satisfação própria, mas para a satisfação do outro.
Como em todas as outras coisas, o cristão deve buscar fazer as coisas para o Senhor e para o próximo, não para si mesmo. Esta é uma das razões pelas quais a masturbação não é uma prática saudável para o cristão, pois é egocêntrica. Trata-se de buscar prazer para si mesmo, e não raro termina em frustração pelo fato de se sentir solitário. Toda a imaginação e fantasia de uma segunda pessoa desaparece tão logo acaba o prazer físico.
Quando conhecemos o Novo Testamento entendemos que a união de um casal no matrimônio é figura de algo ainda mais elevado, que é união entre Cristo e sua noiva, a Igreja. A cada ato sexual o casal está confirmando ser "uma só carne", daí a exortação em 1 Coríntios para o cristão não se unir sexualmente com uma prostituta, pois isso caracterizaria o "uma só carne", porém sem o compromisso do matrimônio e nem sequer a amizade que deve existir entre duas pessoas que se desnudam revelando assim não estarem escondendo coisa alguma uma da outra.
1Co 6:15-20 "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum. Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne. Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele. Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo"
Agora pense no relacionamento entre Cristo e sua Igreja, ou particularmente entre ele e cada cristão. Você imaginaria alguém se converter a Cristo sem um compromisso, mas apenas para receber certas vantagens? Algo do tipo, "quero que o Senhor me salve, me abençoe, me faça sentir bem, ser feliz etc., mas não quero um comprometimento".
Quando um homem chega a uma mulher, ou uma mulher a um homem, em busca de sexo fora do casamento, é como se estivesse dizendo: "Quero me desnudar na sua presença, ter todo o prazer e benefícios do ato sexual, mas sem nenhum compromisso". Imagine o Senhor dando a você o que pede e depois dizendo: "Muito bem, você precisava de um emprego e eu lhe dei um. Agora não me procure mais que não temos nada juntos".
A união entre um homem e uma mulher é uma figura da relação entre Cristo e sua Igreja, e essa relação é de união mesmo. Tanto é que somos chamados de corpo, do qual ele é a cabeça. Agora Cristo é meu e eu sou dele. Esta expressão é usada pela noiva de Cantares em relação ao seu Noivo, ali uma figura de Israel e do Messias que é Jesus: Cnt 2:16 "O meu amado é meu, e eu sou dele".
Mas como lidar com a condição de viúvo ou solteiro? Na verdade a Palavra de Deus diz que é uma condição até melhor do que a de casado.
1Co 7:1-35 "Ora, quanto às coisas de que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da prostituição, tenha cada homem sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido.... Acho, pois, que é bom, por causa da instante necessidade, que a pessoa fique como está. Estás ligado a mulher? não procures separação. Estás livre de mulher? não procures casamento. Mas, se te casares, não pecaste; e, se a virgem se casar, não pecou. Todavia estes padecerão tribulação na carne e eu quisera poupar-vos. Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; pelo que, doravante, os que têm mulher sejam como se não a tivessem... Pois quero que estejais livres de cuidado. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor, mas quem é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar a sua mulher, e está dividido. A mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor para serem santas, tanto no corpo como no espírito; a casada, porém, cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido. E digo isto para proveito vosso; não para vos enredar, mas para o que é decente, e a fim de poderdes dedicar-vos ao Senhor sem distração alguma".
Pode parecer estranho encontrarmos isso no Novo Testamento, uma vez que no Éden Deus decidiu que não era bom o homem estar só, por isso lhe deu a mulher. Em Gên 2:18 "Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea". Então em 1 Coríntios 7 diz que "é bom... que a pessoa fique como está", ou seja, solteira.
Mesmo que pareça uma incoerência, as duas coisas estão corretas e vou explicar a razão. Deus continua abençoando a união estável entre um homem e uma mulher no matrimônio, e ao mesmo tempo nos diz que é melhor ficarmos solteiros, ou literalmente, "bom seria que o homem não tocasse em mulher".
A razão disso é o que depois que Deus instituiu o matrimônio, o pecado entrou na Criação e arruinou tudo. A partir de então, até as coisas que Deus estabeleceu como boas, como o matrimônio, estão sujeitas a fracassar e a trazer dores e sofrimentos. Deus ordenou que eles se multiplicassem, porém depois da queda as dores de parto entraram em cena para estragar a alegria da mulher e às vezes até levá-la à morte. Deus ordenou que Adão lavrasse o jardim, mas depois da queda a terra passou a dar espinhos e pragas, e hoje é com suor que o homem ganha o pão.
Portanto, não se iluda: o matrimônio traz muitas alegrias, mas pode também trazer muitas tristezas, e é disto que o apóstolo está falando em 1 Coríntios. O próprio Senhor aconselha o celibato ao tratar do divórcio, esse fracasso no matrimônio. A "Escala de Holmes-Rahe para Avaliação do Estresse" coloca o "divórcio" como segunda maior causa de estresse, só perdendo para o primeiro da lista que é "a morte do cônjuge". Em terceiro vem "ser preso" e em quarto "a morte de pessoa da família". É por esta razão que o divórcio, que é um efeito colateral dos danos causados pelo pecado na instituição do matrimônio, foi comentado pelo Senhor Jesus seguido de um conselho para que o homem permanecesse solteiro:
Mat 19:10-12 "Disseram-lhe os discípulos: Se tal é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem aceitar esta palavra, mas somente aqueles a quem é dado. Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o".
Não devemos nos esquecer também que Jesus, o homem perfeito, e que é nosso exemplo a ser seguido, era solteiro.
Eu sei que não dei a você o remédio para a aflição de suas tentações sexuais, mas quis mostrar dois pontos importantíssimos: primeiro, que o ato sexual é um complemento do casamento, o qual é em si um compromisso assumido com tanta seriedade quanto quando nos convertemos a Cristo. Não existe um desnudamento de nosso ser diante de Deus e a aceitação dos benefícios da salvação sem um comprometimento. E não deve existir um desnudamento de um casal e uma união pelo ato sexual sem que antes exista um compromisso matrimonial.
A outra coisa que tentei mostrar a você é que ser solteiro não é uma desgraça ou o fim do mundo. Mesmo num casamento perfeito o romance tem seus altos e baixos, e o sexo um dia termina, mas a relação de amizade, comunhão, compromisso, intimidade e respeito podem continuar muito bem, pois são as bases que sustentam a união homem-mulher.
Hoje somos bombardeados por uma cultura que, ao mesmo tempo que tenta nos convencer que somos perdedores e fracassados se não estivermos em algum tipo de relacionamento, insiste que devemos viver livres de um compromisso sério, buscando apenas a proximidade necessária para satisfazer o apetite sexual, como se fosse algo tão vital quanto comer, beber e respirar.
Jesus Cristo é o SENHOR, sempre, toda hora o tempo todo !
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